Ecoturismo
O conceito “ecoturismo” tem cerca de três décadas de aplicação e surge como
uma alternativa às formas mais convencionais de turismo na medida em que se foi
percebendo nestas que o seu desenvolvimento, com base em princípios de
rentabilidade financeira, acarreta importantes impactos ambientais e sociais
negativos. Esta nova modalidade foi desenhada com o objectivo de compatibilizar
a protecção ambiental (biodiversidade, habitats, paisagens) com o seu uso
sustentável. Ao longo destes anos esta denominação tem sido foco de atenção
para inúmeros investigadores, resultando um vasto número de publicações
científicas, livros e documentos sobre o tema. Mas, na realidade, os resultados
da investigação e da edição não são acompanhados ao mesmo ritmo pela aplicação
prática do conceito no sector turístico. Para a sua concretização no terreno é
fundamental criar experiências que levem à consciencialização ambiental dos
turistas, à valorização e contributos para a protecção ambiental dos locais
visitados e à criação de benefícios para as populações envolventes (Fennell,
2001; Fennell, 2003; Weaver, 2005).
Um grande impulso para a reflexão
e o desenvolvimento deste conceito foi a declaração do Ano Internacional do
Ecoturismo em 2002, atribuído pelas Nações Unidas com o objectivo de chamar a
atenção para uma alternativa ao rumo insustentável em que as formas mais
tradicionais de turismo têm transformado esta actividade. Da cimeira do
Ecoturismo realizada nesse ano no Quebeque, resultou uma declaração onde consta
que o ecoturismo (Das & Chatterjee 2015):
• Contribui activamente para a conservação do património natural e cultural;
• Deve incluir as comunidades locais no planeamento, desenvolvimento e
funcionamento das actividades, assim como contribuir para o seu bem-estar;
• Interpreta o património natural e cultural dos locais visitados.
Apesar das muitas divergências
que existem sobre o conceito, a sua origem e a sua aplicação, o ecoturismo é
reconhecido globalmente como tendo três elementos centrais: (a) o ambiente
natural onde se realiza (b) a forma sustentável com que se pratica (c) os
objectivos educativos que possui. Deste último ponto interessa-nos focar desde
as questões educativas mais simples relacionadas com o comportamento dos
visitantes nas áreas que visitam (Littlefair 2004) até às formas mais profundas
de promover a educação através do que pode ser referido como formas mais
profundas de ecoturismo ou “hard ecotourism” (Coles et al. 2015b), sendo que
estas últimas são as que contêm também mais actividades educativas ou de
investigação sobre o ambiente natural (Weaver & Lawton 2007).
Por ser um conceito de difícil
definição mas de fácil manipulação (Hintze 2008) e pelo carácter holístico e de
certo modo complexo e abrangente, que, em contextos como o português, é, por
vezes, erradamente equiparado a outros conceitos com os quais existe alguma
interligação e que possuem enquadramento legal como é o caso do turismo de
natureza ou mesmo do turismo rural.
Existe dificuldade em se perceber este conceito na sua plenitude e
principalmente em encontrar as estratégias para o seu planeamento e
implementação prática. Os seus princípios, embora claramente adequados ao
contexto em que vivemos, são ambiciosos, sendo necessário adoptar um paradigma
próprio que muitas vezes é pouco compatível com as visões mais clássicas de
turismo, levando a que o ecoturismo não tenha tido a expansão que seria
desejável. Neste caso os objectivos de lucro financeiro não são exclusivos de
um agente, mas levam a benefícios simultâneos para os visitantes, para a
comunidade local e para o ambiente do contexto visitado (Coles et al. 2015a).
Este aspecto pode levar a problemas de ética na sua aplicação, onde muitas
vezes o termo é usado para fazer “greenwashing” (Weaver & Lawton 2007) ou
esconder uma actuação clássica e de baixo nível de sustentabilidade por debaixo
de uma classificação “verde”.